Na interseção entre moda, inteligência artificial (IA) e design, surgem desafios e oportunidades que moldam a forma como marcas e profissionais se comunicam e criam. Gregorio Reis, diretor de marketing do grupo Malwee, compartilha uma trajetória intensa e cheia de insights sobre esse universo, revelando como a criatividade, o improviso e o propósito são essenciais para transformar não apenas marcas, mas carreiras inteiras no mercado da moda. Este artigo mergulha nas reflexões de Gregorio, abordando desde sua experiência internacional até os impactos da IA na comunicação e no design contemporâneos.
Natural de Itaúna, no interior de Minas Gerais, Gregorio cresceu em um ambiente onde a moda já despertava seu olhar criativo. Herdar roupas dos irmãos mais velhos foi, segundo ele, uma primeira experiência que o incentivou a usar a criatividade para construir sua identidade através do vestuário.
Com uma formação em Publicidade e Propaganda em Belo Horizonte, Gregorio teve uma passagem rápida e desafiadora por São Paulo, onde enfrentou dificuldades de adaptação. A virada veio com uma bolsa para mestrado na Academia de Belas Artes de Milão, Itália, um dos berços históricos da moda mundial. Lá, ele viveu uma imersão profunda no universo da comunicação e da arte, trabalhando em uma agência boutique que atendia grandes marcas de moda com projetos especiais.
Foi em Milão que Gregorio encontrou o equilíbrio entre teoria e prática, entendendo a importância de alinhar criatividade com as demandas reais do mercado. Apesar dos desafios, como barreiras linguísticas e culturais, ele se destacou por sua dedicação e visão inovadora.
Uma das histórias mais emblemáticas dessa fase foi quando, aos 24 anos, Gregorio ficou responsável por uma instalação ousada para a Diesel — um carro queimado de cabeça para baixo, com fumaça e roupas dispostas ao redor, como parte de uma exposição temática.
Com seu chefe ausente devido a um casamento, ele improvisou uma solução criativa para a área da "revolução industrial", utilizando paletes e andaimes para representar o conceito, o que salvou o evento e consolidou sua posição na agência.
Após quatro anos na Itália, Gregorio retornou ao Brasil em 2011, iniciando uma nova fase que uniu sua experiência internacional com o mercado local. Ele trabalhou em startups digitais, como a Amaro, pioneira no Brasil em moda 100% digital, onde acumulou responsabilidades que iam desde fotografia até edição e publicação de campanhas online.
Essa experiência trouxe uma compreensão profunda sobre agilidade, dados e a importância do fluxo rápido de informação na comunicação de moda.
Posteriormente, Gregorio ingressou na Shoulder, uma empresa tradicional do setor, onde liderou um reposicionamento estratégico ao resgatar a identidade original da marca, focada na mulher que ingressava no mercado de trabalho nos anos 80.
Esse movimento mostrou a importância de assumir a essência da marca e equilibrar inovação com legado, um aprendizado fundamental para qualquer profissional de moda e design.
Gregorio destaca que a identidade da marca é seu DNA, um conjunto que inclui história, valores e assinatura visual. Ele alerta para o risco das marcas perderem sua essência ao tentar seguir todas as tendências globais, o que pode resultar em crises de identidade e perda de conexão com o público.
"Assumir quem você é — como pessoa ou como marca — pode ser o maior diferencial."
Comunicar uma marca para um país tão diverso quanto o Brasil é um desafio complexo. Gregorio ressalta que a Malwee, por exemplo, está presente em 80% dos municípios brasileiros, o que exige uma estratégia que respeite as diferentes culturas e realidades regionais.
Ele enfatiza o papel fundamental do relacionamento humano, especialmente entre representantes e lojistas, como ponte para fortalecer a mensagem da marca. Esse contato próximo é um diferencial brasileiro, que vai além da simples venda, envolvendo conversas e construção de comunidade.
Além disso, Gregorio aborda a importância de criar comunidades reais e virtuais, destacando que o tema central em torno do qual as pessoas se reúnem é essencial para o sucesso de qualquer estratégia de comunicação.
Com a crescente digitalização, o uso de dados tornou-se indispensável para entender o comportamento do consumidor e ajustar estratégias em tempo real. Gregorio compartilha sua paixão inicial pelos números e análises, mas também alerta para os limites dessa abordagem.
Ele cita uma lição valiosa de Dominique, um especialista em dados da Amaro: "Se você conseguir provar o retorno exato de cada esforço de comunicação, pode vender a empresa e ficar rico. Isso não existe."
Para Gregorio, o equilíbrio entre dados e intuição é fundamental. A comunicação eficaz exige tanto estudo quanto sensibilidade para captar tendências culturais e emocionais que os números não revelam completamente.
O impacto da inteligência artificial (IA) no mercado de moda e design é um tema central nas reflexões de Gregorio. Ele vê a IA como uma ferramenta poderosa para agilizar tarefas práticas, como desdobramento de imagens para múltiplas mídias, mas alerta para os perigos de se tornar dependente demais da tecnologia.
Gregorio pondera sobre o que é verdade na era digital, questionando a autenticidade das imagens e mensagens geradas artificialmente. Ele lembra que campanhas com modelos 100% criados por IA já são realidade, mas isso levanta debates filosóficos sobre percepção e realidade.
"O maior risco da inteligência artificial é deixar a gente preguiçoso, afetar nossa inteligência, porque vamos deixar a máquina pensar e talvez não ficaremos tão espertos."
Apesar dos riscos, Gregorio acredita que a criatividade humana continuará insubstituível, especialmente em áreas como styling e direção criativa, onde a sensibilidade e a originalidade são essenciais.
Gregorio defende o uso da IA para tarefas repetitivas e que não exigem criatividade, liberando os profissionais para focar no que realmente importa: inovar e criar experiências autênticas que conectem marcas e consumidores.
Ele cita o exemplo de utilizar IA para pintar quadros ou fazer impostos, enquanto as tarefas criativas e estratégicas permanecem nas mãos humanas.
Para Gregorio, comunicar bem é quando uma mensagem move alguém ou planta uma ideia verdadeira e original na mente do público. Ele critica a uniformidade das campanhas de moda atuais, que muitas vezes replicam tendências internacionais sem considerar a diversidade e a identidade local.
Uma comunicação eficaz, segundo ele, gera conversa e conexão, mantendo sempre o DNA da marca como base.
Gregorio aconselha profissionais de moda e comunicação a não terem preconceito com as fontes de informação, buscando referências em universos diversos para criar algo novo e relevante.
Ele compartilha sua paixão por séries e animações que ressignificam mídias e contam histórias de formas inovadoras, como a série "Efeitos Colaterais".
Essa busca constante por inspiração é vista como fundamental para manter a criatividade viva e adaptável às mudanças do mercado.
A trajetória de Gregorio Reis é um exemplo vivo de como a moda, a IA e o design caminham juntos, exigindo dos profissionais uma combinação de conhecimento técnico, sensibilidade cultural e coragem para inovar.
Enquanto a inteligência artificial oferece ferramentas poderosas para otimizar processos, a criatividade humana permanece insubstituível para construir histórias autênticas e conectar marcas a seus públicos de maneira significativa.
O futuro da moda e da comunicação passa por essa integração equilibrada, onde tecnologia e talento andam lado a lado, impulsionando o mercado para novos patamares.
Se você atua no segmento de moda, design ou comunicação, vale a pena refletir sobre esses insights e considerar como a IA pode ser uma aliada para expandir seu potencial criativo e estratégico.