A expressão “Made in Italy” carrega consigo uma aura de prestígio e exclusividade. Grandes marcas de luxo dependem de ateliês e oficinas especializadas italianas para produzir artigos de alta qualidade, desde bolsas e sapatos até peças de alta-costura. No entanto, o setor manufatureiro italiano enfrenta uma crise profunda, com milhares de fábricas fechando em 2024. Este artigo analisa as causas dessa crise e as estratégias que surgem para manter vivo o legado artesanal que sustenta o mercado global de luxo, além de tecer paralelos com o cenário brasileiro.
Cerca de metade de todos os artigos de luxo mundiais são fabricados na Itália. A cultura italiana de produção artesanal é um grande diferencial para marcas que buscam justificar preços elevados e um posicionamento premium. Entretanto, a busca por margens de lucro cada vez maiores, aliada a mudanças nos hábitos de consumo e pressões regulatórias, coloca em risco a sustentabilidade desse modelo.
A Gruppo Florence surgiu em 2020 como uma resposta inovadora aos desafios da indústria manufatureira italiana. Com quase 40 fornecedores adquiridos, a holding funciona como uma espécie de cooperativa moderna, permitindo que cada oficina mantenha sua identidade, mas usufrua de suporte centralizado em áreas como:
Esse modelo contribui para garantir uma maior estabilidade em tempos de crise, pois a diversificação de clientes e a integração de sistemas geram ganhos de escala.
Embora a crise do “Made in Italy” pareça distante, há implicações para o mercado brasileiro:
A perda de oficinas na Itália não afeta apenas a economia local. Ela compromete toda a cadeia de valor da moda de luxo, que depende da narrativa de qualidade e tradição para sustentar preços elevados. Para a Itália, trata-se de um patrimônio cultural e econômico que pode se extinguir se não houver políticas de fomento, participação mais ativa das grandes marcas e soluções colaborativas.
O “Made in Italy” enfrenta uma tempestade quase perfeita: fechamento de fábricas, competição global feroz, pressão por margens altas e demandas cada vez mais sofisticadas de sustentabilidade. Nesse cenário, a inovação se torna fundamental para quem deseja sobreviver. Modelos como o da Gruppo Florence demonstram que a cooperação, aliada a investimentos em tecnologia e compliance, pode ser o caminho para preservar o legado artesanal italiano.
Para o Brasil, abre-se um duplo desafio: se adaptar a um cenário internacional instável, garantindo insumos de qualidade e competitivos, e investir na própria produção local, de olho em oportunidades de colaboração ou substituição de parte da capacidade industrial italiana. A crise italiana serve de alerta para a necessidade de valorizar o artesanato e desenvolver políticas de fomento que tornem o setor manufatureiro brasileiro mais robusto e sustentável a longo prazo.