Recentemente, a consultoria GlobalData divulgou um levantamento que trouxe dados reveladores para o setor de moda global: a Shein foi a marca que mais cresceu em participação no mercado de vestuário em 2024. A empresa chinesa conquistou um crescimento significativo de 0,24 ponto percentual, alcançando 1,53% do mercado. À primeira vista, pode parecer um crescimento pequeno, mas é suficiente para superar gigantes históricas como Zara, H&M e Uniqlo, marcas tradicionalmente fortes no segmento.
O que mais chama a atenção nessa ascensão é o contexto em que ela acontece. A Shein enfrentou inúmeras críticas relacionadas às práticas trabalhistas e ao impacto ambiental de sua produção acelerada. Ainda assim, conseguiu continuar crescendo rapidamente. O levantamento destaca que o sucesso da marca foi impulsionado por dois fatores centrais: preços extremamente baixos e capacidade impressionante de adaptação rápida às tendências da moda.
Enquanto isso, concorrentes diretas no segmento online, como ASOS e Boohoo, perderam força, indicando que a estratégia da Shein – que combina moda rápida, preços baixos e marketing agressivo nas redes sociais – é eficaz em conquistar especialmente os consumidores mais jovens. Esse público busca constantemente novidades, reage rápido às tendências e prioriza preço acessível acima de outras preocupações.
Outro ponto interessante da pesquisa é a observação feita pela analista Pippa Stephens, da GlobalData, que aponta que consumidores têm preferido marcas já conhecidas e que oferecem um "excelente custo-benefício". Isso explica não só a ascensão da Shein, mas também o bom desempenho da Zara, que conseguiu crescer levemente, e da Uniqlo, que expandiu significativamente sua participação fora do Japão.
Mas o que esses dados revelam sobre o atual cenário da moda? Primeiro, que as preferências dos consumidores mudaram significativamente. Em um contexto econômico mais desafiador – especialmente em mercados ocidentais que enfrentam incertezas econômicas –, os consumidores tendem a privilegiar marcas que oferecem preços mais baixos e atualizações constantes. A Shein compreendeu isso rapidamente e adaptou sua estratégia para capturar essa demanda.
Além disso, a eficiência operacional da Shein também é um ponto de destaque. A empresa é conhecida por seu modelo de produção que testa pequenas quantidades de produtos antes de expandir a fabricação em larga escala, minimizando desperdícios e reduzindo o risco de produtos encalhados. Isso permite que a Shein responda rapidamente às tendências emergentes, oferecendo exatamente aquilo que seu público deseja no momento certo.
No entanto, o sucesso da Shein levanta questões importantes que precisam ser consideradas pela indústria. O impacto ambiental e social do modelo fast fashion acelerado é uma preocupação crescente. Marcas tradicionais têm buscado adotar práticas mais sustentáveis, enquanto a Shein ainda enfrenta resistência quanto à transparência de sua cadeia produtiva.
Apesar desses questionamentos, não se pode negar que a Shein capturou algo valioso e estratégico: a combinação perfeita de preço, rapidez e alinhamento às tendências. Isso força outras marcas a repensar suas estratégias, colocando pressão sobre o mercado inteiro para se reinventar rapidamente.
Essa análise dos dados da GlobalData também destaca que, enquanto marcas de luxo acessível sofreram perdas (como o caso da Gucci, que teve queda na participação de mercado), marcas como Hermès e Chanel cresceram justamente por atenderem a um público ultrarrico menos impactado por crises econômicas.
Fica evidente que, para competir efetivamente nesse cenário atual, as marcas precisam ter clareza sobre quem é seu público-alvo e como se comunicar com ele de maneira ágil e eficiente. A Shein conseguiu isso, e os resultados estão à vista.
Para os profissionais do setor de moda, especialmente aqueles ligados à gestão, planejamento, marketing e desenvolvimento de produtos, a mensagem é clara: a agilidade na tomada de decisões, a capacidade de responder rapidamente às mudanças no comportamento do consumidor e o equilíbrio entre custo e valor oferecido são essenciais para manter relevância e crescer em um mercado tão competitivo e em constante transformação.
A liderança da Shein não é apenas um fenômeno passageiro; ela sinaliza um novo padrão para o varejo de moda global. Resta agora às demais marcas entenderem como irão se adaptar a essa realidade.