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Vermelho na Seleção: Tradição, Polêmica e a Reinvenção da Identidade Visual do Brasil

Written by Marketing uMode | 06/05/2025 19:26:41

A possível adoção de um uniforme vermelho pela seleção brasileira para a Copa do Mundo de 2026 gerou um terremoto nas redes sociais e reacendeu um debate antigo: até que ponto uma seleção pode reinventar suas cores sem perder sua essência? O vazamento, divulgado pelo site Footy Headlines, sugere que a Nike e a CBF planejam substituir o tradicional azul pelo vermelho como segunda camisa, além de substituir o logo da Nike pelo da Jordan — marca associada ao basquete e a Michael Jordan. Apesar da CBF negar a oficialidade das imagens, o caso revela uma tensão entre inovação comercial e identidade histórica.

 

O Design Vazado: Jordan, Vermelho e a Quebra de Paradigmas

O protótipo vazado aponta para um uniforme vermelho vibrante, com detalhes em preto e o logo da Jordan estampado no peito. Se confirmado, o Brasil será a primeira seleção de futebol do mundo a usar a marca Jordan, seguindo os passos do PSG, que desde 2018 exibe o icônico "Jumpman" em suas camisas — parceria que rendeu ao clube francês € 200 milhões em vendas de produtos em 2022 (dados da L’Équipe).

A mudança de cor, porém, é o cerne da polêmica. O azul, usado desde 1958 como segunda opção (quando o Brasil conquistou seu primeiro título mundial vestindo essa cor), seria substituído por um vermelho "moderno". A Nike ainda não se pronunciou, mas a estratégia parece alinhada a tendências globais: segundo a Euromonitor, 62% dos consumidores de artigos esportivos buscam designs ousados, mesmo que rompam com tradições.

A Resposta da CBF: Entre a Negação e a Abertura

Em comunicado, a CBF afirmou que as imagens "não são oficiais" e que os uniformes da Copa de 2026 ainda estão em definição, garantindo a manutenção do amarelo e azul como cores-base. No entanto, a nota deixou brechas: o estatuto da entidade permite a criação de modelos "comemorativos em cores diversas", desde que aprovados pela diretoria. Foi assim em 2023, quando a seleção estreou uma camisa preta contra a Guiné, em campanha antirracismo — peça que esgotou em 48 horas no site da Nike, segundo a Globo Esporte.

História vs. Inovação: Quando o Brasil Já Vestiu Vermelho

A polêmica ignora um fato histórico: o Brasil já usou vermelho em competições oficiais. Em 1917, durante o Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), o time adotou a cor após perder um sorteio contra Uruguai e Chile, que também vestiam branco. A situação se repetiu em 1936, contra o Peru. Na época, não havia preocupação com identidade visual — era uma questão prática.

O vermelho, porém, nunca apareceu em Copas do Mundo. O branco, abolido após o "Maracanaço" de 1950, deu lugar ao amarelo em 1954, escolhido via concurso popular. Já o azul consolidou-se como segunda opção após o sucesso de 1958, quando o Brasil derrotou a Suécia de azul, por causa do choque de cores.

 

O Marketing das Cores: Por Que a Nike Arrisca?

 

A possível mudança reflete uma estratégia de "storytelling emocional". A Jordan Brand, que fatura US$ 6 bilhões anuais (dados da Nike, 2023), busca expandir seu alcance além do basquete. Associar Michael Jordan — ícone global — ao futebol mais popular do planeta é uma jogada ousada.

Além disso, o vermelho tem apelo comercial: é a cor mais associada a paixão e urgência, segundo estudo da Pantone. Não por acaso, a camisa vermelha do Liverpool é a segunda mais vendida da Premier League, atrás apenas do Manchester United (dados da Sports Direct, 2023). Para a Nike, que paga US$ 30 milhões/ano à CBF (mais royalties de 15% sobre vendas), a inovação pode significar um boom de vendas, especialmente nos EUA — país-sede da Copa de 2026, onde o vermelho é cor patriótica.

Nas Redes Sociais: Divisão e Engajamento

A reação dos torcedores foi polarizada. Uma enquete do ge.globo com 85 mil votos revelou que 54% rejeitam o vermelho, enquanto 46% apoiam a mudança. Críticos argumentam que "o Brasil é amarelo, azul e verde", enquanto entusiastas defendem que "o futebol precisa de ousadia".

Curiosamente, a polêmica já gerou engajamento orgânico: o termo "Camisa Vermelha Brasil" teve 1,2 milhão de menções no X (Twitter) em 24 horas, segundo a Social Blade. Para marcas, mesmo controvérsias são oportunidades — em 2020, a camisa rosa da Alemanha causou rejeição inicial, mas vendeu 1,5 milhão de unidades (dados da Adidas).

 

O Futuro dos Uniformes: Onde Termina a Tradição?

O caso brasileiro reflete uma tendência global. A Alemanha lançou um uniforme rosa em 2020; a França introduziu o dourado em 2022; e a Argentina estreou listras verticais em 2023, rompendo com as horizontais históricas. Para a FIFA, a flexibilidade é necessária: 40% das seleções mudaram suas cores secundárias na última década.

No Brasil, porém, o desafio é maior. O amarelo não é apenas uma cor — é um símbolo nacional, associado a cinco estrelas e à identidade de um país. A Nike e a CBF precisarão equilibrar inovação comercial e respeito histórico. Se o vermelho for adiante, seu sucesso dependerá de uma narrativa convincente: talvez homenageando as raízes de 1917 ou vinculando a cor a causas sociais, como fizeram com o preto em 2023.

Uma coisa é certa: no varejo esportivo, onde o mercado global de uniformes deve atingir US$ 22,8 bilhões até 2027 (projeção da Statista), tradição e ousadia precisam coexistir. E a seleção brasileira, quer queira ou não, está no centro desse jogo.